domingo, 20 de setembro de 2009

Eu x Eu

Uma parte de mim luta a favor da Lei de Deus, a outra se diverte ao quebra-la; Uma deseja ardentemente a santidade, a outra se alegra no pecado. A metade do que sou se satisfaz com a justiça, a outra tem prazer na impiedade. Estou dividido dentro de mim. Eu quero agradar a Deus, mas eu também quero satisfazer a minha vontade vã. Eu anseio o pelo reino de Deus, mas me distancio voluntariamente da sua vontade. Uma parte quer fazer o que é certo, a outra se realiza no que não é. Um hemisfério da minha alma descansa em seus estatutos, o outro revolta-se com eles. Um lado meu dorme o sono dos justos, o outro vive uma angústia insone. Minha vida é um campo de batalha.
Há várias guerras e conflitos hoje, igualmente contraditórios. Há guerra pela paz, manifestações pacíficas que conduzem a conflitos, amores que geram ódio, religião que provoca dores e sofrimentos. Contudo, nenhum conflito é mais profundo, mais extenso e mais acirrado que a luta entre eu e eu mesmo. Eu me oponho a mim, eu luto comigo. Não é meu corpo que milita contra o meu espírito, posto que minha carne e meu espírito são aliados nessa guerra contra o Espírito de Deus(Gl 5.17). Não é minha mente que luta contra o meu coração visto que ambos estão rendidos nessa disputa. Não se trata de animo dobre(Tg 1.8), nem de servir a dois senhores(Mt 6.24); e nem ainda de coxear entre dois pensamentos(1Re 19). Não se trata de tornar uma semente a beira do caminho(Mt 13.4). Não são dúvidas como a dos comtemporâneos de Gideão(Jz 6.31); nem uma revolta como a de Caim(Gn 4.5); também não é uma depressão, como sugerem que viveu Elias(1Re 19). Não se trata de se tornar uma semente à beira do caminho(Mt 13.4); não é uma apostasia e nem abandono da fé(2Tm 4.10).
Em termos bíblicos é cumprir o mandato de Jesus de de negar a si mesmo e tomar a cruz(Mt 16.24), não negar ao Senhor, mas a mim mesmo (Mt 10.33). Tal negação não ocorre sem lutas, guerras e conflitos internos. Também não ocorre uma única vez, mas se desenrola ao longo da minha curta existência. Na linguagem do apóstolo Paulo é morrer para a lei e viver para Deus até que eu possa dizer ‘já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim’ (Gl 2.19,20). Ou mesmo, a tarefa diária de despir-me do velho homem(Cl 3.9, Ef 4.22). Significa não considerar o que é meu em primeiro lugar(Fp 2.4), como Paulo, considerar o valor da vida a partir da nossa missão ou propósito estabelecido por Deus(At 20.24). É fazer a minha oração a confissão do salmista quando expressa seu desejo: ‘não a nós Senhor, não a nós...’ (Sl 15.1), ou fazer calar e sossegar a minha alma na expectativa que Deus seja glorificado(Sl 131). Isso requer, na figura de Paulo lutar e esmurrar ao meu próprio corpo(1Co 9.25-27). Enfim aprender a dizer não a mim mesmo.
Nessa batalha tão íntima e pessoa, intransferível e inadiável, o único conforto é saber que aquele que começou a boa obra irá concluí-la(Fp 1.6), e por isso posso dizer: ‘Graças, porém, a Deus que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo’ (2Co 2.14)

Reverendo Jôer Correa Batista

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